Foto: Marcelo Lelis/Agência Pará
A utilização de matérias-primas originárias da Mesorregião Metropolitana de Belém, como sementes de castanha, andiroba, pracaxi e patauá, para a fabricação de óleos e manteigas, que são a base para a fabricação de cosméticos, como hidratantes, shampoos e sabonetes faciais, é objeto de estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio do edital de apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas em bioeconomia lançado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa).
O químico Cláudio Nahum, coordenador do Laboratório de Recursos Naturais e Sustentabilidade da Amazônia, no qual a pesquisa “Utilização de matéria-prima nativa da Mesorregião Metropolitana de Belém-PA para a Preparação de formulações cosméticas nanoestruturadas”, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências e Meio Ambiente da Universidade, é desenvolvida, explica o quão é importante o aproveitamento das oleaginosas, a exemplo de sementes de castanha, andiroba, pracaxi e patauá, cupuaçu, murumuru e tucumã.
“A exemplo do cupuaçu, que utilizamos muito aqui no Estado, como suco ou creme, no geral, a semente é jogada fora. No laboratório, fazemos a manteiga do cupuaçu a partir do caroço, que tem uma ação muito forte na área de cosméticos, por ser rica em ômega 3, ômega 6 e em nutrientes. A bioeconomia é justamente isso, aproveitar esses recursos que vão se perder na floresta e transformar em riqueza. Todo mundo ganha com isso, seja a comunidade local, a nossa formação de pesquisadores e o governo com essa economia circular que só é possível avançar com o apoio da Fapespa”, pontua Nahum.
A pesquisa trabalha com comunidades paraenses para ensinar sobre como devemos cuidar do meio ambiente, incluindo como coletar, guardar, secar e processar materiais. O produtor rural Wander Martins, de São Domingos do Capim, comunidade parceira do projeto, celebra a iniciativa e destaca as melhorias, inclusive, financeiras, já vividas no dia a dia.
“Se não fosse com a pesquisa e o apoio da Fapespa, nunca teríamos acesso a um equipamento de última geração como os que temos aqui, nem acesso a tanto conhecimento que ajuda muito na nossa produção. Eu fazia esse processo de forma muito artesanal para extrair o óleo e conseguia cerca de cinco recipientes de óleos semanais. Com o projeto, a gente bate média de até 100 litros, conforme a gente tem matéria-prima. Nem tenho palavras para dizer o quanto ajuda no nosso rendimento e comercialização nas feiras do município”, ressalta.
“A manutenção da floresta viva depende do uso de produtos com tecnologia para agregação de valor a partir do conhecimento tradicional das nossas comunidades. Esse valor agregado depende de projetos de pesquisa como esses fomentados pelo governo do Pará através da Fapespa dentro das diretrizes do PlanBio.”, explica o presidente da Fapespa, Marcel Botelho.
Doutoranda em química pela UFPA, Ana Cláudia Araújo, destaca que São Domingos do Capim está entre os maiores produtores da polpa de cupuaçu do Estado e antes havia um alto índice de descarte das sementes e armazenamento inadequado que inviabilizava o uso. Com a troca de conhecimentos proporcionada entre Universidade e comunidade, a realidade mudou. “Fazemos todo um controle de qualidade com os produtos em desenvolvimento no Laboratório, verificando o índice de acidez, saponificação, iodo e peróxido. Todo o acompanhamento para garantir a qualidade e se está apto para comercialização”, assegura.
MAIS VALOR – Pesquisadora de pós-doutorado na UFPA, Carla Carolina Meneses, conta como a manteiga de cupuaçu, por exemplo, pode ser utilizada em vários tipos de formulações cosméticas. “De forma bruta, ela não tem tanto valor agregado, mas as caracterizações físicas, químicas e nutricionais realizadas no Laboratório potencializam o valor para as formulações de cosméticos e desenvolvem estratégias para potencializar os efeitos, como o aumento do tempo de absorção de um hidratante feito a partir dessa matéria-prima na pele”, comenta.
APOIO – No ano passado, a Fapespa investiu mais de R$ 11,3 milhões em projetos para a valorização do conhecimento tradicional amazônida. “A Fundação veio com uma ideia de aproximar a bioeconomia da academia. Isso faz com que o pesquisador entre em contato com a comunidade, conheça mais sobre o processo e faz toda a diferença, porque nós estamos trabalhando com matéria-prima e dependendo da temperatura, da forma como é manipulada, esse material pode perder algumas propriedades. Esses conhecimentos valorizam muito o estudo e proporcionam o avanço das pesquisas”, finaliza Carla Carolina.